Depois de muito mistério por trás de anúncios e pistas sutis lançados à moda antiga, Coldplay está, oficialmente, de volta.
Pelo menos para mim, o anúncio de um novo álbum causou surpresa. Confesso que não esperava — não neste momento —, mesmo que A Head Full of Dreams já esteja entre nós há quatro anos.
O que não me surpreende — e não levem isso a mal; muito pelo contrário — é o contexto em que Everyday Life, mesmo ainda pendente de lançamento, está inserido.
Uma das primeiras informações ao nosso alcance já adianta que o álbum terá um forte apelo político, “por falar sobre assuntos contemporâneos como guerras, refugiados, a ascensão do nacionalismo, sexismo, racismo, brutalidade policial, corrupção e controle do armamento.” Nós adiantamos o que a loja holandesa PlatoMania trouxe, neste domingo (27), em nosso Twitter.
No ano passado, em entrevista ao Coldplay Brasil, o diretor Mat Whitecross disse o seguinte: “vivemos em tempos cínicos e sombrios.” Essa frase nunca mais saiu da minha cabeça, principalmente ao acompanhar os acontecimentos que se desencadearam no Brasil e no mundo naquele último trimestre de 2018.
Antes de seguir adiante, gostaria de deixar claro que publico isso em um fã-site com tranquilidade. Em primeiro, devido ao fato já descrito logo acima, e porque Coldplay é uma banda que nunca deixou de se posicionar em troca de agradar meia dúzia de pessoas.
Coldplay é uma banda que nunca deixou de se posicionar em troca de agradar meia dúzia de pessoas.
Mat, por sua vez, tem lutado publicamente contra a saída do Reino Unido da União Europeia. Já eu, aqui no Brasil, tenho me deparado, desde o último trimestre de 2018 (quando aquela entrevista foi publicada e aquela frase entrou na minha cabeça), com um país que volta a flertar com o autoritarismo e a censura, tanto na cultura, quanto na imprensa. (Sobre isso, não vou me alongar muito, não é a função deste portal.)
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Enquanto isso, em outras regiões do globo, milhares de órfãos e árabes se encontram à mercê devido à uma série de questões que, se eu fosse listar aqui, teria que remeter a um período da história muito longínquo e me alongar explicando.
Mas posso garantir que é uma situação que vai muito além de se inspirar em uma sonoridade e utilizar um alfabeto ocidental. Está em uma banda que entende seus privilégios e sempre utilizou o seu espaço para defender aquilo que acredita ou que é um problema do mundo.
Não esqueçamos de quando, em turnê com A Rush of Blood to the Head, em 2003, Coldplay levou aos shows uma petição em prol do comércio justo. Um ano antes, Chris Martin visitou o Haiti, junto da Oxfam, e viu de perto como a injustiça no comércio afeta agricultores menos favorecidos financeiramente.
Chris Martin em visita ao Haiti, no começo da campanha Make Trade Fair, da Oxfam. (Imagem: Reprodução)
Desde então, a Oxfam esteve presente em todas as turnês do Coldplay, promovendo campanhas que defendam as populações atingidas pelas diversas crises ocorridas neste começo de século, do comércio justo, a grilagem de terras e, na turnê A Head Full of Dreams, a assistência aos refugiados.
Agora é a hora de lutar pelos órfãos, pelos árabes e por tudo o mais que possa surgir em Everyday Life — e em uma eventual turnê. E, nesse caso, a nossa arma, a do Coldplay, a de Mat, será a música. Porque a música é a arma do futuro.
Entre discutir se é a apropriação cultural — porque sei que esse debate vai acontecer, em alguma hora — ou firmar um posicionamento político que defenda alguém marginalizado, prefiro ficar com a segunda opção. Prefiro ficar com Coldplay.