COLDPLAY BRASiL

“Clocks” e o paradoxo de uma humanidade obcecada pelo tempo

Videoclipe de “Clocks” foi gravado com estudantes universitários. (Foto: Reprodução/Warner Music)

As luzes se apagam, não há salvação, não há como tentar nadar contra as ondas. Só resta ficar de joelhos — e implorar pela revelação de coisas não ditas. Os primeiros versos de “Clocks” são carregados de um sentimento inerente à sociedade e não perdem a contemporaneidade mesmo 17 anos após seu lançamento.

Mesmo não tendo sido o carro-chefe de A Rush of Blood to the Head — mas sim, “In My Place” —, “Clocks” é, praticamente, a principal faixa do álbum, além de uma das canções mais importantes da carreira do Coldplay. Muito bem recebida pela crítica, foi consagrada com o prêmio de Gravação do Ano na edição de 2004 dos Prêmios Grammy.

A melodia assombrosa e quase infinita do piano, a guitarra pulsante e cíclica, a forte marcação da bateria e do baixo e os falsetes nos vocais se juntam no que é o maior flerte do Coldplay com a psicodelia em toda a sua carreira.

Esta atmosfera melódica torna-se o espaço perfeito para a discussão central da letra da música. Trata-se de um paradoxo que a humanidade enfrenta: a obsessão pelo tempo e pela pontualidade contra um desejo de saborear cada momento e “aproveitar o dia”.

As luzes se apagam e eu não posso ser salvo
Ondas contra as quais eu tentei nadar
Me deixaram de joelhos
Eu imploro, eu imploro e suplico

A letra fala sobre uma ansiedade existencial universal que, em parte, surge devido aos avanços da comunicação cada vez mais instantânea e o excesso de informação.

Os primeiros versos descrevem um sentimento de implorar por salvação em uma maré de dúvida. O narrador, no escuro, tentou em vão encontrar respostas difíceis de se ter. Agora, exaurido, de joelhos, ele procura ajuda na única coisa que nunca o deixou de lado: a música.

Cantando
Revele coisas não ditas
Atire uma maçã em cima de minha cabeça e um
Problema que não pode ser nomeado
Um tigre está esperando para ser domado

A famosa frase “atire uma maçã em minha cabeça” [“shoot an apple off my head”] é uma referência ao mito de Wilhelm Tell que, no início do século XIV, na Suécia, era conhecido por sua habilidade no arco e flecha. Na época, para testar a lealdade do povo aos imperadores Habsburgos, Hermann Gessler, um governador austríaco tirano, pendurou em um poste um chapéu com as cores da Áustria. Quem passasse em frente, teria de fazer uma saudação respeitosa, certificada por soldados que guardavam o chapéu. Um dia, Wilhelm e seu filho não fizeram a saudação e, como castigo, o governador o obrigou a disparar a besta em direção a uma maçã posta sobre a cabeça do filho. A flecha atravessou a maçã sem atingir o menino.

O mito de Wilhelm Tell representado através de uma gravura da época. (Foto: Reprodução)

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