Nota da equipe
O que pode acontecer ao longo de uma década? No mundo, dez anos significaram transformações políticas, sociais e tecnológicas que entraram para história. Os egípcios derrubaram um governo que ficou no poder durante 30 anos; Osama Bin Laden foi morto; a saída do Reino Unido da União Europeia foi aprovada em um plebiscito marcado por controvérsias; o Brasil elegeu, pela primeira vez, uma mulher à presidência e a derrubou; um ex-apresentador de reality show se tornou presidente dos Estados Unidos; um Papa renunciou ao cargo pela primeira vez em 600 anos; e o smartphone tornou os computadores dispensáveis.
Já para a música, os anos 2010 foram marcados por uma mudança ainda maior na forma de consumí-la. Se no início do milênio o CD cedeu espaço para o download, desta vez, o streaming tornou possível que praticamente qualquer música seja reproduzida com uma busca e um clique.
Acompanhando estas tendências — e lidando com elas sempre com muita esperteza —, ao longo dos últimos dez anos, Coldplay lançou quatro álbuns, 62 músicas (oficialmente), realizou duas turnês e, com isso, conquistou 63 prêmios.
Para não deixar tudo isso passar em branco, a equipe do Coldplay Brasil se reuniu para escolher o melhor álbum e as melhores canções da banda neste período. Este é o especial O melhor da década.
A década de 2010 foi de muito trabalho para o Coldplay. Num período em que lançou quatro álbuns e, ao todo, 62 músicas, acaba se tornando uma missão quase impossível falar sobre todas — e, principalmente, avaliá-las.
Se, para a equipe do Coldplay Brasil, Mylo Xyloto foi eleito o álbum da década com quase unanimidade, a situação apertou um pouco quando o assunto foram as canções que a banda lançou de 2010 até 2019.
Por isso, cada um dos integrantes da equipe escolheu uma música que acredita ser a melhor da banda em toda a década e teceu suas impressões a respeito dela. Sendo assim, a lista de faixas não é, necessariamente, um ranking.
“Moving to Mars”
Marcelo Monteiro
Provavelmente a maior pérola escondida de toda a discografia da banda, “Moving to Mars” poderia ter tido um destino diferente se não fosse cortada da listagem final de Mylo Xyloto. Felizmente, sua sina foi um pouco melhor do que algumas faixas incríveis idealizadas pela banda, descobertas por fanáticos por bootlegs e que causam perplexidade aos fãs por não terem sido lançadas. A faixa acabou no EP Every Teardrop Is a Waterfall, ao lado da faixa-título e de “Major Minus”.
Sua inspiração vem de um documentário de Mat Whitecross, diretor de vários videoclipes da banda e dos filmes Live in São Paulo e A Head Full of Dreams. Nele, duas famílias de um campo de refugiados em Mianmar se mudam para o Reino Unido em busca de um novo lar. A canção, por sua vez, fala sobre não necessariamente “mudar-se para Marte”, mas sobre a distância entre os personagens principais e a sua família, seu lugar de origem e sua cultura — que pode ser astronômica.
É uma espécie de “Bohemian Rhapsody” do Coldplay: uma faixa que começa silenciosa, quase obscura, e vai tomando proporções, com o perdão do clichê, espaciais. Comparando um pouco mais com as canções da própria banda, faz relembrar de “42” (Viva La Vida or Death and all His Friends, 2008), que é conduzida da mesma forma.
“All I Can Think About is You”
Marília Freitas
Tesouros musicais da banda sempre estão por aí para serem reconhecidos independentemente do tempo de lançamento. Um vasto exemplo é a música “All I Can Think About is You” do EP Kaleidoscope, lançado dois anos após o A Head Full of Dreams. Ainda seguindo as doutrinas do álbum de 2015, a música reflete muito bem as sensações diversas que vivenciamos ao ouvir outras trilhas da banda.
A música trata-se de um romance e inicia-se com uma contagem progressiva de Chris. O tom misterioso é reforçado pelo baixo de Guy e com o piano gradativamente marca o início de uma abertura de algo que ainda não sabemos bem o que é. Então os versos sobre a desordem ao redor do mundo trazem uma sensação de proximidade com o ouvinte, soando como se estivéssemos ouvindo um segredo de Chris. Rapidamente descobrimos o motivo de toda a bagunça com o refrão, que cantarola sobre a sensação de só ter pensamentos voltados para a tal amante, e que isso o deixa com a cabeça nas nuvens – e, quem sabe, cheia de sonhos sobre a vida a dois. A música continua sua expansão e chega em seu ápice com um solo de piano já característico do Coldplay. A palavra-chave “vai!” citada por Chris precede um solo de guitarra e parte para uma maravilhosa mesclagem dos instrumentos, com destaque para a bateria do Will, trazendo a tona diversas sensações, dentre elas a de se apaixonar pela primeira vez.
AICTAIY é uma das melhores traduções do sentimento do amor verdadeiro em trilha sonora e muito mais: seu instrumental traz uma sensação de consolo e de que no final tudo fica bem. Características essas do amor, independentemente de onde e para quem seja. Após ler isso, recomendo parar um pouco em sua rotina e usar fones de ouvido ao ouvi-la. A verdade que restará é que o amor por essa música tomou conta de você que nem tomou de mim!