COLDPLAY BRASiL

Conceitualidade e sucesso: Mylo Xyloto, o álbum da década do Coldplay

Nota da equipe

O que pode acontecer ao longo de uma década? No mundo, dez anos significaram transformações políticas, sociais e tecnológicas que entraram para história. Os egípcios derrubaram um governo que ficou no poder durante 30 anos; Osama Bin Laden foi morto; a saída do Reino Unido da União Europeia foi aprovada em um plebiscito marcado por controvérsias; o Brasil elegeu, pela primeira vez, uma mulher à presidência e a derrubou; um ex-apresentador de reality show se tornou presidente dos Estados Unidos; um Papa renunciou ao cargo pela primeira vez em 600 anos; e o smartphone tornou os computadores dispensáveis.

Já para a música, os anos 2010 foram marcados por uma mudança ainda maior na forma de consumí-la. Se no início do milênio o CD cedeu espaço para o download, desta vez, o streaming tornou possível que praticamente qualquer música seja reproduzida com uma busca e um clique.

Acompanhando estas tendências — e lidando com elas sempre com muita esperteza —, ao longo dos últimos dez anos, Coldplay lançou quatro álbuns, 62 músicas (oficialmente), realizou duas turnês e, com isso, conquistou 63 prêmios.

Para não deixar tudo isso passar em branco, a equipe do Coldplay Brasil se reuniu para escolher o melhor álbum da banda na década.


A chegada de uma nova década causou uma mudança dos ares que rumam a carreira do Coldplay. Se na anterior — a primeira, inclusive —, a sonoridade da banda fluiu do acústico à angústia, à rebeldia e aos elementos eletrônicos, os anos 2010 foram decisivos para a afirmação de Coldplay como artistas de pop, essencialmente do rock, e uma das maiores bandas da história da música.

Quando, em 2009, Guy Berryman declarou que era “hora de levar nossa música a diferentes direções e realmente explorar outros lugares”, ele realmente sabia do que estava falando.

A principal diferença foi, obviamente, percebida logo no título do álbum. Em sua crítica para a BBC, Martin Aston, questionou: “Coldplay não ama seus Xs e Ys? E seus títulos enigmáticos de álbuns?” Mas prosseguiu: “Pode ter um título oblíquo, mas é um trunfo, porque a música não é nada a não ser isso.”

Fruto de um momento único da criatividade de Guy Berryman, Jonny Buckland, Will Champion, Chris Martin e o Dream Team da banda (nomenclatura que passou a ser usada em Everyday Life, mas abrimos uma exceção), Mylo Xyloto é muito mais do que um álbum composto por músicas, singles e videoclipes: é uma história.

Tudo começou, na realidade, três anos antes, quando a Guerra do Iraque, o terrorismo e o início da maior crise econômica desde a Grande Depressão serviram como alguns dos panos de fundo para a construção de Viva La Vida or Death and all His Friends.

Pela primeira vez em sua carreira, a música transcendeu os limites do som e chegou às histórias em quadrinhos. As Mylo Xyloto Comics travaram uma trama de resistência ambientada em uma sociedade distópica onde a cor é crime. No mundo de Silencia, uma espécie conhecida como os Irdoks governa os Silencians através da força militar do exército do ditador Major Minus e do Hypnofeed, que constantemente os alimenta com visual e aparente simulação de áudio.

Quando, em 2009, Guy Berryman declarou que era ‘hora de levar nossa música a diferentes direções e realmente explorar outros lugares’, ele realmente sabia do que estava falando.

História de sucesso

Conceitualidade, esta, que não passou despercebida pela crítica musical. Justificando a nota máxima, o site musical Sputnikmusic alega que Mylo Xyloto é o álbum que faz “Coldplay abandonar sua revolução simulada e assumir uma verdadeira.”

Ao conquistar a nota verde de número 65 no Metacritic, site que reúne críticas de fontes renomadas para retirar uma média ponderada, Coldplay soube adaptar à nova década a receita de sucesso por trás das vendas e da crítica que os consagrou — e impulsionou — nos primeiros anos do milênio.

Como ingrediente-chave dessa composição, está a sagacidade musical da banda, caracterizada pela vontade de constante renovação — ocorrida em cada um dos lançamentos.

Ian Cohen, da Pitchfork, destacou este esforço da banda em se encontrar, reinventar e ressignificar. “Enquanto tantas bandas em seu status voltam ao contentamento inchado ou a alguma vaga ideia da salvação do rock, Mylo Xyloto encontra o Coldplay continuando com sucesso a explorar a tensão de querer ser uma das melhores bandas do mundo e ter que se contentar em ser uma das maiores.”

Em Mylo Xyloto, Coldplay conseguiu sintetizar os trunfos de cada um dos seus álbuns anteriores e catalisar os anseios de uma geração que, no raiar dos anos 2010, tornou-se a principal engrenagem da máquina da sociedade e a formadora de opinião da esfera pública. Ao falar de revolução, ao mesmo tempo que conta uma história de amor e superação, através de uma sonoridade inteligente e jovial, Coldplay soube como conversar com uma população ávida por ser ouvida.

Coldplay conseguiu catalisar os anseios de uma geração que, no raiar dos anos 2010, tornou-se a principal engrenagem da máquina da sociedade e a formadora de opinião da esfera pública.

A conquista do público

Em todo o mundo, Mylo Xyloto vendeu mais de 8 milhões de cópias. Até 2012, um ano após o seu lançamento, somavam-se cerca de 1,67 milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos e 1,5 no Reino Unido. Em sua terra natal, o álbum estreou em 1º lugar e permaneceu nas paradas, entre os 100 primeiros colocados, durante 79 semanas. Nas paradas estadunidenses, também estreou no topo e ficou 54 semanas na tabela.

Atrelado à recepção da crítica, tudo isso só poderia culminar na conquista de novos admiradores do trabalho da banda e na fidelização de quem, antes, já fora conquistado. O lançamento de Mylo Xyloto fez com que Coldplay chegasse a um tipo de público até pouco tempo inimaginável — ou, ao menos, improvável.

A mudança de sonoridade proporcionou que consumidores de música considerada mais pop, assim que conhecessem as então novidades da banda, conhecessem todo o portfólio da banda — o que não é demérito nenhum, como muitas pessoas compreendem ser.

Mas um grande álbum não é aquele que, necessariamente, tem sucesso comercial ou é bem recebido pela crítica, mas sim, o que sabe traduzir os sentimentos de cada um e as vontades de toda uma geração. As boas vendas e análises são apenas resultado paralelo deste acerto que, com certeza, torna Mylo Xyloto o álbum da década do Coldplay.

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