COLDPLAY BRASiL

20 anos de Coldplay: a história de (Don’t) Panic, uma das primeiras canções

Você certamente já associou o trecho we live in a beautiful world, de “Don’t Panic”, a algum momento muito bom da sua vida. Pois saiba que Chris Martin não. O próprio vocalista já deixou bem claro: essa canção foi surgiu após “uma noite ligeiramente desastrosa na qual Chris passou entretendo uma garota chamada Alice Hill”. No entanto, o fora que Chris — gente como a gente — levou de sua crush é apenas uma base para a construção da música, pois sua letra vai muito além disso, e a coluna Por Trás da Canção, na qual os olhos (e claro, os ouvidos) da equipe do Coldplay Brasil encontram os detalhes das canções da banda.

Suas origens estão associadas às da banda num geral. À época, a banda já tinha cerca de 10 canções escritas, e ela acabou sendo usada como um mecanismo de integração de Will Champion, o último integrante a juntar-se ao grupo. Inicialmente intitulada como “Panic”, a música foi uma das seis que o então Starfish apresentou no seu primeiro show, no The Laurel Tree, em Camden, no dia 16 de janeiro de 1998.

Devemos essa canção à uma garota chamada Alice. Ela não estava interessada em mim na época. Obrigado, Alice.

— Chris Martin, em entrevista da banda ao South Bank Show

Após assinar o seu contrato de publicação com a Parlophone Records, iniciou-se a produção do EP The Blue Room — o segundo e último antes do álbum de estreia. A banda havia realmente gostado de “Panic”, mas havia um pequeno problema: The Smiths tinha uma música com o mesmo nome. Foi então que outra inspiração entrou em cena: Douglas Adams, autor da série O Guia do Mochileiro das Galáxias. A frase “don’t panic” [não entre em pânico] aparece estampada na capa do primeiro livro (e também do guia propriamente dito) e foi a inspiração para o novo nome da música — dez anos mais tarde, “42” também seria batizada em referência a Adams, mas isso é assunto para outro post da coluna…

Incendeiem a discoteca
Enforquem o bendito Dj
Porque a música que eles tocam constantemente
Não me diz nada sobre a minha vida!

— The Smits, em “Panic”

Em 1999, com o lançamento de The Blue Room, a primeira versão de estúdio de “Don’t Panic” apareceu. Notavelmente diferente da versão final, presente em Parachutes, é composta por uma introdução distorcida, vocais mais melancólicos e arrastados e uma melodia mais sintetizada, deixando claro, de cara, a tendência dos rapazes ao experimentalismo.

Foi Ken Nelson, produtor que trabalhou com o Coldplay em Parachutes, quem deu um novo som à música. A versão que conhecemos até hoje é mais simples — sem deixar de lado sua beleza —, acústica, instrumental e explora a potência vocal de Chris Martin acompanhada dos vocais de apoio graves de Jonny Buckland. Gravada ao vivo em estúdio, é conduzida pelos habituais violão, bateria, baixo e guitarra, sendo usada a técnica overdub, que multiplica o som na hora da mixagem, e um harmônio (similar ao órgão, mas sem tubos).

A letra conta sobre um grande desastre que ocorreu e tudo parece estar perdido na carnificina. Dada a destruição em massa implícita no verso, esse gancho pode ser considerado como uma ironização do eu lírico em relação aos ocorridos. Isso também pode implicar que a dita destruição foi causada por mãos humanas (ou, como em O Guia do Mochileiro das Galáxias, por mãos alienígenas), e não pela natureza.

Ossos, afundando como pedras
Tudo o que nós lutamos por
Lares, lugares onde crescemos
Todos estamos condenados

Nós vivemos em um mundo lindo
É, nós vivemos
É, nós vivemos
Nós vivemos em um mundo lindo

O enredo do videoclipe de “Don’t Panic” é a sua própria letra. Lançado em 19 de março de 2001 e dirigido por Tim Hope, nele, a banda aparece fazendo tarefas domésticas quando desastres naturais subitamente atingem a Terra. No final, Chris, Jonny, Guy e Will têm a quer procurar: uns aos outros.

Uma análise mais simples e rápida pode sugerir que, simplesmente, é muito bonito o singelo ato de tirar um tempo e apreciar o mundo e a vida ao nosso redor, mostrando todas as lutas que passamos para criar a vida em que vivemos e que, muitas vezes, acabamos deixando para trás momentos e pessoas importantes. Ambas as interpretações culminam no mesmo final: apesar da calamidade que aconteceu, não há desespero ou medo — não entre em pânico —, pois sempre há pessoas as quais amamos e podemos recorrer.

Ah, tudo o que eu sei
Não há nada do que fugir, aqui
Porque todo mundo aqui tem alguém para se apoiar

É evidente que Alice não foi uma destas pessoas, mas se está arrependida de ter dado um fora no futuro vocalista da banda cuja última turnê se tornou a terceira maior da história da música, bem, só a própria pode dizer. Mas que o pé na bunda rendeu uma das melhores canções do Coldplay, isso é fato.

Colaborou: NME; Genius

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