Mat Whitecross: “Estou super animado para ver o que vai acontecer daqui em diante”

Em entrevista exclusiva ao Coldplay Brasil, o diretor de A Head Full of Dreams e Live in São Paulo fala sobre seu trabalho e sua amizade com a banda, e adianta: “Eles definitivamente vão fazer alguma coisa”.

21.nov.2018
Mat Whitecross, o diretor de Live in São Paulo e A Head Full of Dreams. (Foto: reprodução)
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Foi em 2016, poucos meses depois do começo da turnê de divulgação do álbum A Head Full of Dreams, que Mat Whitecross disse, em entrevista, que estava acompanhando os shows a trabalho, deixando os fãs na expectativa do que poderia vir. Dois anos mais tarde, com a turnê consagrada como uma das maiores da história, Coldplay surpreende e lança não apenas um documentário, mas também, anuncia Live in São Paulo, o primeiro filme de um show na América Latina.

Contudo, a história poderia ter sido muito diferente se, há 20 anos, nem Mat Whitecross tivesse começado a filmar Chris, Jonny, Guy, Will e Phil, antes mesmo de serem o Starfish, e se estes tivessem desistido de ter uma banda ao primeiro “não” que ouviram.

É sobre isso que o diretor dos filmes A Head Full of DreamsLive in São Paulo conversou em uma entrevista exclusiva ao Coldplay Brasil. O complicado trânsito de Londres e os filhos nos bancos de trás do carro não impediram que Mat se disponibilizasse para conversar conosco. Numa ligação que durou cerca de meia hora, conversamos sobre passado, presente e futuro: como era há 20 anos, o que está acontecendo agora (no mundo e na banda) e o que ele imagina que irá acontecer. “Eu sei que eles andam conversando, porque eu ouço conversas, de tempos em tempos, quando eles estão em turnê, sobre o que fazer a seguir. Eles definitivamente vão fazer alguma coisa”, comenta.

Whitecross falou, também, sobre seu trabalho e sua amizade com a banda. “Mais do que tudo, somos todos amigos. Eu ficaria muito feliz em continuar fazendo isso, se eles me quiserem”, diz. Ele ainda desabafa ao falar, rapidamente, de política: “Vivemos em tempos cínicos e sombrios, de certa forma. Acho que vivemos em tempos difíceis”. Apesar disso, acredita em uma mensagem que a banda possa transmitir. “Eu os vejo mudando a vida das pessoas o tempo todo”, expõe.


Oi, Mat. É um prazer conhecer você. Oi, parceiro. Como você está?

Estou ótimo, e você? Estou muito bem, obrigado.

Bem, após um ano de hiato — inclusive, nas redes sociais —, a banda voltou com os filmes que você dirigiu, deixando uma sensação de alegria e entusiasmo em todos os fãs. Você se sente como parte de uma reconexão entre a banda e seus fãs depois de um longo tempo? Sim, digo, eu espero que sim. Eu não acho que eles estavam pretendiam que fosse assim, porque nós íamos lançar o filme há quase um ano, eu acho. A ideia era tentar lançar o filme no Natal do ano passado. E foi tudo muito louco, porque nós tentamos peneirar milhares de horas de filmagens e ainda estávamos no meio delas. Algumas semanas eu saía e me juntava à banda, talvez na Índia ou, você sabe, onde quer que fosse. Às vezes, nós viajávamos para Sydney e Manila, todos esses lugares diferentes. E ao mesmo tempo minha equipe em Londres estava tentando desesperadamente cortar todas as filmagens para prepará-las, e nós realmente não sabíamos o tipo de filme que estávamos tentando fazer.

Então, não havia nada realmente intencional sobre isso, mas pareceu funcionar dessa maneira. A turnê foi tão grande, e demorou tanto, e foi uma grande coisa para eles. Eu acho que foi um evento tão grande para eles, em termos de acumulação de muitas coisas sobre as quais eles falaram no passado; eles definitivamente decidiram que queriam tirar um ano de folga e nunca haviam feito isso antes. Então, eu suponho que sim, nesse sentido; saiu o filme e foi meio que a primeira mensagem de volta da banda após um longo tempo, mas eu não tenho certeza se foi 100% intencional.

Meio que funcionou assim, mas você sabe, muitas vezes parece acontecer dessa maneira com o Coldplay. Phil e Chris, muitas vezes, têm as ideias, e muitas vezes são as pessoas que começam com as ideias, e todos adicionam as suas opiniões e eu realmente não sei, eu acho que foi legal a maneira como isso aconteceu. Muitas vezes, quando estamos fazendo videoclipes, acontece da mesma forma, temos uma ideia e não dá certo, mas talvez Chris tenha outra ideia, ou Phil, ou alguém da banda, e isso acontece naturalmente.

Então nada foi intencional mas, no final, acabou dando certo. Sim, foi apenas uma dessas coisas. Eu não acho que nada disso foi particularmente deliberado do jeito que aconteceu. Então, basicamente, tudo se junta originalmente. Nós não íamos fazer um filme; eu que pedi a eles por um longo tempo se poderíamos fazer esse filme, e todos os anos eles meio que diziam “ah, eu não sei, talvez no próximo ano, talvez no próximo ano”. Em um certo ponto eu meio que entendi, e era como se nunca fôssemos fazer esse filme. E foi só quando desisti que se tornou uma possibilidade novamente. Phil e Chris vieram ver um filme que eu fiz sobre o Oasis, Supersonic, e acho que talvez tenha sido a primeira vez que eu comecei a pensar nisso seriamente.

Liam Gallagher e Mat Whitecross na première do filme Supersonic, que conta a história da banda Oasis. (Foto: The Independent)
Liam Gallagher e Mat Whitecross na première do filme Supersonic, que conta a história da banda Oasis. (Foto: The Independent)

Na entrevista após o filme, você disse que filmou a banda por mais de cinco mil horas. Como você conseguiu manter todas essas filmagens seguras durante todo esse tempo? Eu acho que foram mais de mil horas. Não havia realmente um plano. Era bem caótico, bem casual; então, no começo, eu estava filmando tudo e qualquer coisa — e eu não era a única pessoa que estava perto da banda. Então, nos momentos em que eu parei de gravar suas vidas e carreira, especialmente em torno do terceiro álbum, eu me esquivei por um tempo porque eu estava tentando fazer meus próprios filmes e eu estava viajando muito, mas graças a Deus, o Miller, que começou como um dos membros da banda — trabalhando no lado musical das coisas, no lado da música ao vivo —, depois expandiu-se para trabalhar no estúdio e depois expandiu-se de novo, porque adora filmar, para documentar eficazmente as suas vidas. Ele filmou muito. E então outras pessoas continuaram chegando e filmando coisas, então não era só eu.

Mas Miller assumiu a responsabilidade — graças a Deus — de cuidar de tudo, e ele me ligou e disse “Olha, você tem alguma coisa?”. Então ele tirou tudo isso de mim —ou tudo que eu pude encontrar. E da mesma forma para todos os nossos amigos, todas as pessoas na universidade, qualquer um que tenha filmado alguma coisa, ou qualquer um que tenha tirado uma foto; ele pegou tudo isso, e Chris confiou nele dando uma grande mala cheia de tudo que era precioso para ele quando ele estava crescendo, ou quando estava na universidade —todos os cadernos, credenciais, tudo e qualquer coisa—, e aí Miller entrou nisso e escaneou tudo. E então catalogou tudo com muito cuidado. Havia algumas coisas; voltei para a casa da minha mãe, encontrei mais algumas fitas em seu sótão, e havia outro amigo nosso muito próximo chamado Chris Williams, que também estava em uma banda ao mesmo tempo, e é um músico brilhante e também filmou as coisas no passado.

Então, há sequências das filmagens iniciais, algumas delas são dele também. Então nós tivemos sorte, e Miller pegou tudo e colocou quando viemos fazer o filme. Eu tenho uma equipe — a mesma equipe que trabalhou, na maior parte, em Supersonic —, e eles encontraram muitas dessas fitas antigas que Miller guardou, mas não digitalizou — todas as filmagens de Guy por exemplo, em torno do segundo álbum quando eles estavam em turnê. Eu acho que Guy adora tentar de tudo. Ele fará tudo o que quiser, é um tipo de piloto de corrida, e também constrói aviões, e também criou várias empresas de tecnologia, e também filma, é um ótimo fotógrafo; e filmou muito do segundo álbum, sobre a criação do estúdio; ele sempre teve uma câmera, e é por isso que você vê o Chris tocando, ele estava fazendo muitas filmagens e não tocando muito — para nossa sorte. E então, novamente, quando eu estava entrevistando ele para este sétimo álbum, eu disse “Alguém já filmou alguma coisa?”, e ele apenas “Ah, eu acho que não. Ah sim, eu provavelmente filmei um pouco”. Ele filmou todas essas cenas incríveis para nós, então é a gravação dele, geralmente em preto e branco, durante a produção do último álbum. Então tivemos sorte. Eu acho que ele meio que esqueceu que ele filmou.

Vocês filmaram em São Paulo! Sim, nós gravamos duas noites em São Paulo.

E como foi? Foi maravilhoso, absolutamente surpreendente. Eu já estive no Brasil algumas vezes no passado, mas nunca em São Paulo. A vibe das pessoas é elétrica, é maravilhoso; agora eu entendo porque as bandas sempre começam e terminam seus shows na América Latina — é um sentimento incomparável. Há fãs em todo mundo que têm uma vibe incrível, principalmente nos shows do Coldplay. Eu acho que não teve um show, nos últimos três anos que eu fui, que não teve uma atmosfera incrível, mas tem algo em particular sobre a América do Sul. Talvez por isso que foi lá que eles encontraram inspiração para o quarto álbum, o espírito de tudo isso de novo, após o que aconteceu no X&Y, e com toda certeza eles se reencontraram de novo na América do Sul. Eles gravaram no México, em toda América Latina. É incrível, eu amo isso. Nós também gravamos em Porto Alegre, ano passado, mas não ficou bom, mas foi uma ideia experimental. As filmagens estavam fragmentadas, como um fluxo de consciência, a estrutura dele.

Nós só havíamos feito um show em Paris àquela altura; além disso, eu sempre estou correndo com uma câmera, e o Marcus Haney — que é outro diretor que seguiu a banda —, também, então foi bem fragmentado. Mostrei para o Phil — ele e a esposa estavam prestes a ter outro bebê, então não era a melhor hora para ele sentar e pensar sobre qualquer outra coisa. “Eu não sei, eu não sei, não parece que está funcionando”, e eu disse “Tudo bem, deixe comigo. Eu preciso de outra chance”.

E então ele e Chris conversaram e disseram, “Olha, se você pudesse filmar em qualquer lugar, onde você filmaria para nossos shows finais?”, e eu disse “Na América Latina, porque lá realmente me parece onde o coração do Coldplay é frequente, certamente quando se toca ao vivo”. E eles disseram “Ok, ótimo, vamos filmar em São Paulo e Buenos Aires e isso será o começo e o fim do filme, isso faz mais sentido”. Tem algo pessoal para mim porque minha família, da parte da minha mãe, é argentina, e é um lugar que eu já visitei muito. Eu viajei muito pela América do Sul. É um lar para mim, de muitas maneiras, então eu adoro voltar lá com a banda.

A vibe das pessoas é elétrica, é maravilhoso; agora eu entendo porque as bandas sempre começam e terminam seus shows na América Latina — é um sentimento incomparável.

Nós sabemos que você sentiu que o Coldplay se tornaria algo, mas você realmente imaginava o quão grande eles se tornariam? Bem, é engraçado, não é? Eu acho que, provavelmente, como qualquer um. Você sabe: você cresce com grandes sonhos e eu sempre quis ser cineasta desde muito cedo. Eu não sei porque eu fiquei obcecado por aquilo e percebi que era o que eu sonhava em fazer. E um minuto eu pensei “Sim, eu vou conseguir fazer isso pelo resto da minha vida, vai ser incrível”. E, outras vezes, “Ah, acho que nunca vou fazer isso”.

20 anos atrás, por que você gravou tudo aquilo? Você tinha em mente que aquilo um dia poderia ser usado? Bem, você sabe, não há necessariamente nenhuma justiça ao modo como as coisas funcionam. Talvez ninguém os descubra, talvez eles tenham o cabelo errado, talvez seja a hora errada, talvez eles não estejam vestidos da maneira certa, talvez estejam assinados com a produtora errada e alguém os “rasgue”. Então, há um milhão de obstáculos, mas eu meio que senti em meu coração que, se houvesse alguma justiça, eles conseguiriam. Mas eu não acho que ninguém, nem mesmo eles, poderia ter imaginado que eles poderiam chegar onde chegaram. Eu acho que, naquela época, era impossível demais pensar sobre isso.

Sabemos que você dirige muitos dos vídeos do Coldplay. Como é quando vocês são trabalhando nisso? Vocês trabalham bem em grupo? É engraçado, porque eu acho que os videoclipes são muito diferentes do jeito que fizemos esse filme. Então, na maior parte, eles nos deixaram completamente sozinhos no filme. Phil nos dava algo; você sabe, de vez em quando ele nos verificava, e ele podia dizer “Oh, você pode me mandar algumas cenas?”, e oferecia alguns conselhos. Então, realmente, Phil agia como olhos e ouvidos neste filme… Nos videoclipes, é o oposto; eles realmente sentem que é uma colaboração entre todos nós, todos têm ideias. Por exemplo, em “Adventure of a Lifetime”, Chris sentiu que queria fazer um vídeo de dança para pessoas que não podem dançar.

Obviamente, a banda pode dançar, mas eles não são bailarinos profissionais, então, como você os faz dançar, e como você traz isso à vida de uma maneira envolvente? Eles pensaram que seria o primeiro vídeo e a primeira faixa desse novo álbum, então tinha que ser bom. E Chris teve a ideia de que ele queria ter um exército de pessoas — um exército de Chrises, um exército de Wills e um exército de Jonnys —, todos dançando sincronizados, como se você encontrasse 100 gêmeos, e todos fossem capazes de replicar outros movimentos. Porque ele disse que o modo como ele se movimenta, por exemplo, no palco, é tão espontâneo que ele está sentindo o momento da música e isso simplesmente o leva para o outro lado. E não importa se as pessoas gostam do jeito que ele se move, é como ele se sente naquele momento. Imagine se você pudesse, de repente, ter outras 100 pessoas fazendo isso —não seria ótimo? Então, nós olhamos para isso, mas ainda assim, a tecnologia ainda não está tão avançada para fazer recriar os seres humanos — você pode fazer praticamente qualquer coisa, mas você não pode fazer isso.

Ele [Chris] esbarrou em Andy Serkis em um avião, e obviamente eles se conhecem através de mim, e então me ligaram e disseram “Ah, vamos fazer algo juntos”. Eles me disseram que seria “Hymn for the Weekend”, e então nós aparecemos no set, tínhamos a música, e faríamos um enredo completamente diferente. Então eles falaram “Ah, nós temos esse ótimo riff de guitarra, vamos fazer isso”. E então todos tinham ideias diferentes, e tentamos coisas diferentes — eram todos dinossauros, então eram todos zumbi s— e então nós os transformamos em chimpanzés. Guy disse “Ah, eu tenho uma ideia para gravar: por que você não coloca todos nós quatro de costas um para o outro e gira a câmera em volta de nós?”. Então, todo mundo estava tendo pensamentos diferentes, e eu disse “Talvez você devesse descobrir a música sob algumas folhas na selva”, e é assim que aconteceu.

Mas muitas pessoas talvez imaginem que o diretor chega com uma ideia totalmente formada. Isso às vezes acontece, mas de maneira geral —especialmente quando estou trabalhando com o Coldplay— todos contribuem. É como fazer um vídeo caseiro para a família, mas com um orçamento massivo e enorme!

Quando estou trabalhando com o Coldplay, todos contribuem. É como fazer um vídeo caseiro para a família, mas com um orçamento massivo e enorme!

Isso é incrível. Como você compararia o primeiro vídeo que dirigiu, “Bigger Stronger”, com o último, “Adventure of a Lifetime”? Obviamente, como você nos disse, a tecnologia evoluiu, mas isso levou a um desenvolvimento, a uma melhoria de estilo, ou houve outras mudanças? Bem, suponho que, obviamente, superficialmente, eles não poderiam ser mais diferentes, porque um custou cerca de 5 libras e foi feito por um grupo de amigos estudantes, e o outro custa eu não sei quantos milhões, foi super caro e feito por mais de cem pessoas até o final. Porque nós não tínhamos apenas a banda e eu, nós tivemos o The Imaginarium — que é a empresa que captura as performances, do Andy Serkis — e nós tivemos uma empresa francesa chamada Mathematic — que fez todo o CGI [imagens geradas por computador; animações], este trabalho incrível, e levou toda a informação bruta. Eu estive dizendo por um longo tempo, “Olhe bem se vocês conseguem obter um orçamento para um vídeo”, porque nós sempre costumávamos fazer filmes juntos.

Nós filmamos esses vídeos e fazemos qualquer coisa. “Então, se acontecer de vocês assinarem com uma gravadora, eu posso fazer um videoclipe? Eu adoraria jogar meu chapéu no ringue”, e Chris disse “Sim, é claro que você vai fazer nossos videoclipes, sem problemas”. Eu disse “Ok, eu vou fazer”, e eu tive essa ideia, mas na noite anterior, Chris mudou de ideia. Todos nós estávamos tendo que tentar descobrir, mudar tudo, então ele, de repente, disse “Bem, nós deveríamos estar jogando críquete”. Então, de repente, toda a ideia que tive teve que mudar de novo —aconteceu isso. Às vezes funciona muito bem, como penso sobre “Paradise” e, em seguida, “Adventure of a Lifetime”, onde todos nós tivemos ideias e fizemos juntos, e às vezes é terrível como em “Bigger Stronger”. Nós não tínhamos realmente descoberto o que estávamos fazendo até então.

E qual é seu vídeo favorito do Coldplay? Essa é realmente uma boa pergunta. Eu acho que, nos que os mais nos divertimos, está entre “Paradise” e “Adventure of a Lifetime”. Ambos foram muito alegres de fazer. O que funcionou melhor, que eu senti na época, foi “Christmas Lights”, só porque nós entramos nela — e tudo que poderia ter dado errado deu errado. Foi um desastre completo do começo ao fim: terminamos às três da manhã, nós achamos que não tínhamos nada, no dia seguinte colocamos tudo junto e foi tipo “Oh, ok, isso vai ser ótimo”.

Então, em termos do alívio, e depois do sentimento com todos de que não desperdiçamos o tempo e o dinheiro, essa foi, provavelmente, a melhor sensação. Eu acho que, dos outros dois clipes [“Paradise” e “Adventure”], a maneira que as pessoas responderam ao vídeo de “Paradise”, o fato dele ser tão incomum — e que foi a ideia louca de Chris que se juntou depois de muitos falsos inícios — foi provavelmente o mais inesperado e o mais divertido.

Mat Whitecross, Chris Martin e Andy Serkis durante as gravações do clipe de "Adventure of a Lifetime". (Imagem: Sarah Lee)
Mat Whitecross, Chris Martin e Andy Serkis durante as gravações do clipe de “Adventure of a Lifetime”. (Imagem: Sarah Lee)

Isso é muito legal. Ah, muito obrigado. Bem, era muito improvável, porque eu acho que recebi esse telefonema de Phil algumas semanas antes — porque acho que Hype Williams estava fazendo um clipe, mas ele não conseguiu passar pela alfândega; algum tipo de coisa louca aconteceu — e então eles fizeram outro vídeo, como um tipo de backup, e, por alguma razão, eles não queriam aquele. Então era improvável. Eu recebi esse telefonema do Chris, à meia noite, dizendo “O que você vai fazer amanhã?”, e eu estava tipo “Ah, eu estou trabalhando, o que foi?”; ele falou “Ah, eu preciso que você pegue um avião para a África do Sul e eu preciso que você tenha boas ideias — na próxima hora!”

Eles viram os outros dois clipes, não acharam que estavam certos, por alguma razão, e foi isso. Então, eu cheguei com um monte de ideias, mas Chris disse: “Não, não, não, esqueça tudo isso, pare. Precisamos de uma fantasia de elefante e um monociclo”. Ele me disse que poderia pegar um monociclo e então eu pude rabiscar um enredo bem básico e enviá-lo —e ele disse “Sim, eu gosto desse pedaço; eu não gosto desse”, e assim foi todo o vídeo, realmente. Eu acabei telefonando para quatro dos meus melhores amigos —há, entre eles, um cinegrafista incrível— e disse: “Há alguma chance de sua esposa deixar você entrar em um avião amanhã?”, e ele falou tipo “Sim, claro”.

Bem, você filmou toda a carreira da banda desde o primeiro momento, e nós a vemos no filme. Mas o que fazer agora? O que vai acontecer de agora em diante?

Isso. É uma pergunta muito boa, tenho certeza que muitas pessoas gostariam de saber a resposta para ela. Mais do que tudo, somos todos amigos e, felizmente, ninguém me matou, ou nunca mais quis falar comigo, em dois anos estivemos trabalhando nisso [os filmes]. Então eu adoraria continuar trabalhando com eles, se eles precisarem de mim. Quero dizer, eles sempre trabalham com outras pessoas também, então, cada álbum tem dois ou três ou quatro outros diretores com quem trabalham. Mas se eles estiverem dispostos a continuar filmando, eu adoraria isso. Somos todos bons amigos, e nunca dá a sensação de trabalho, e sou sempre fascinado por eles, no geral.

Eu toco alguns instrumentos, não muito bem, mas adoro ver outras pessoas fazendo isso. Então eu ficaria muito feliz em continuar fazendo isso, se eles me quiserem; eles podem estar cansados de mim, você nunca sabe. E quanto ao que eles farão a seguir, eu sei que, pela primeira vez em suas carreiras, eles tiraram um ano de folga, o que é um grande negócio para eles.

E eu sei que eles andam conversando, porque eu ouço conversas, de tempos em tempos, quando eles estão em turnê, sobre o que fazer a seguir. Então eu sei que não é como se eles nunca fossem voltar —eles definitivamente vão fazer alguma coisa. Eu suponho que vai ser música, não vai ser uma arte performática, ou poesia, ou pintura abstrata. É óbvio que vai ser música, não sei nada mais que isso. Chris disse: “Vai ser algo diferente”, então, isso pode significar que é outro álbum, mas é muito diferente, ou que eles vão fazer uma turnê diferente. Todos eles, de repente, mudam de ideia, e já faz um ano da folga, então, por que não? Eu não tenho ideia, mas estou super animado para ver o que vai acontecer daqui em diante.

Somos todos bons amigos, e nunca dá a sensação de trabalho, e sou sempre fascinado por eles, no geral.

Não apenas como fãs, mas fãs brasileiros, estamos muito animados para o lançamento do Live in São Paulo, o primeiro filme de um show na América Latina. O que podemos esperar dele? Foi algo que realmente surgiu por acaso, porque eu realmente não sabia o filme que estávamos fazendo. Nós começamos dizendo: “Bem, nós filmaremos alguns shows e veremos o que acontece”. E então eu disse “Olha, eu tenho esse arquivo, vocês querem usar?”. Eles disseram: “Não, na verdade, não queremos fazer um documentário”. Então eu disse “Por que não usamos isso como uma forma de ‘quebrar’ um pouco de show ao vivo?” e, então, quanto mais eu mostrava, era tipo “Ah, bem, talvez deveria haver um documentário, já que faz 20 anos”. E foi só realmente durante essa conversa com Phil e Chris, na qual era como se nós simplesmente não sentíssemos que nós poderíamos mostrar todos esses grandes shows; e então, no documentário nós mal vimos esses shows incríveis, e é uma pena. Então Chris disse: “Tudo bem, bem, vamos apenas fazer dois filmes”. Então, meio que aconteceu por acaso.

Chris e Phil estavam tipo “Bem, vamos fazer em São Paulo, esse é um dos lugares onde fizemos um dos nossos melhores shows”. Então, em termos do que eu estava tentando esperar, o que quisemos fazer foi pegar um raio em uma garrafa; foi realmente muito difícil. Esses shows são tão incríveis e consomem muita alma e eu só queria tentar dar às pessoas um gostinho de como seria estar em um show do Coldplay. Você sabe, o Coldplay ao vivo… Eu tive amigos indo [ao show] e eles podem ser bastante cínicos e britânicos sobre o Coldplay e agir como “Ah sim, talvez eu vá, é que eu prefiro o segundo álbum deles”, ou o que as pessoas dizem sobre as grandes bandas. Depois que eles saíram dos shows, estavam gritando e havia lágrimas escorrendo pelo rostos deles, e eles diziam que trouxeram a camisetas do Coldplay para casa.

Nós sempre terminamos nossas entrevistas com essa mesma pergunta: você acredita que as músicas do Coldplay podem mudar o mundo? É muito engraçado, porque vivemos em tempos cínicos e sombrios, de certa forma, quando você vê o que está acontecendo politicamente em todo o mundo — certamente na Europa nós vimos recentemente. Para mim — não sei o que vocês pensam politicamente, mas para mim —, sinto que o que aconteceu recentemente no Brasil é trágico e acho que vivemos em tempos difíceis. Eu também sinto, em geral, as pessoas querendo o melhor para o outro, eu vejo o mundo ao meu redor, vejo meus amigos, vejo o Coldplay, vejo muitas pessoas e elas querem que o mundo mude para melhor. E eles são generosos, são calorosos e não vivem suas vidas com medo; eles vivem suas vidas através do amor, e essa é a mensagem que Chris e a banda tentam transmitir ao redor do mundo. É muito legal falar sobre amor, falar sobre nunca desistir e acreditar em você mesmo e acreditar no amor. Acho que você está se abrindo para o ridículo, mas eles são muito honestos e abertos e apaixonados por isso.

Nesse sentido, é claro, eu os vejo mudando a vida das pessoas o tempo todo. Até mesmo, assistindo o filme de novo, outra noite, fomos para uma sessão perto da minha casa e eu saí e um cara veio até mim e disse: “Eu sou fã desde o início, sou um músico e o filme me fez sentir como se eu não devesse desistir. Eu tenho todas essas ideias para o meu novo álbum e estava me sentindo muito mal sobre isso, mas agora eu estou apenas pensando que vou mudar as coisas e sei o que fazer agora”. Então, mesmo de maneiras pequenas, eu acho que eles fornecem inspiração, então isso é super empolgante. Eu só penso em termos de uma mensagem que, você sabe que é fácil se você é uma grande banda apenas para recorrer a grupos de rock ‘n’ roll para sair, ficar chapado e perseguir mulheres. Eu acho lindo o que Chris e a banda falam e a mensagem que eles colocam lá fora. E é como o Phil diz no final, “vocês tem uma ótima mensagem para divulgar”. Então, dessa forma, espero que eles estejam mudando o mundo. Você não pode esperar muito para mudar, mas espero que a mensagem mude a vida das pessoas, mesmo que seja de um jeito pequeno.


Colaboraram: Clare Hingley (@cartoon__heart_), Benedict Pery (@coldplayben), Josie Hobbs (@xylotoj)
Redatora do Coldplay Brasil e estudante de Relações Internacionais na Universidade Anhembi.

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