O hiato que vem por aí

“Coldplay consegue facilmente vagar entre o mainstream e o underground.”

21.dez.2017

Depois de um fim de ano conturbado envolvendo investigação de desacato a bandeira da Índia, feita pelo presidente do Partido Nacional, contra Chris Martin, um convite ao cantor iraquiano Emmanuel Kelly – finalista do The X Factor Austrália e sobrevivente a guerra do Iraque – para uma das apresentações mais emocionantes da canção “Imagine” e um show na virada do ano nos Emirados Árabes (com direito até a homenagem a George Michael), o Coldplay entra em 2017 fazendo mais jus ainda a palavra “LOVE” que carrega em seus buttons.

Logo no início do ano, depois de lançar o clipe de “Amazing Day”, que foi uma contribuição junto com os fãs, eles se engajaram mesmo em promover o EP Kaleidoscope. É claro, tudo no seu tempo. Quem conhece a banda sabe que quando há novidade, ela é liberada aos pouquinhos. Só de fevereiro até abril, eles conseguiram chamar bastante a atenção da crítica e dos fãs depois de mostrar certo lado comercial (o que fez muita gente torcer o nariz), lançando o que definitivamente se tornou um de seus maiores hits, intitulado “Something Just Like This”, uma parceria com a dupla de dj’s The Chainsmokers. Após o alvoroço, eles divulgaram a segunda faixa que entraria no futuro EP, “Hypnotised”, já com uma pegada totalmente diferente e que certamente agradaria os fãs que esperavam um som mais calmo e constante. O que traz um ponto muito importante em ser abordado – como o Coldplay consegue facilmente vagar entre o mainstream e o underground. Talvez seja por essa estratégia maravilhosa, que eles acabam se tornando aquela banda que todo mundo pelo menos ama uma música.

E nessa vantagem de caminhar entre o melhor dos dois mundos, durante o ano todo eles utilizaram o poder de influência e a fama para causas incríveis e muitas vezes atos considerados pequenos pra muita gente, mas que tem um valor enorme. Exemplos claros disso foram os shows para as vítimas do atentado em Manchester, em junho; a preocupação com as vítimas do furacão Harvey, inclusive, criaram uma música em homenagem aos afetados; se propuseram a tocar no Estamos Unidos Mexicanos, show para criar fundos as vítimas do terremoto, onde também apresentaram a linda “Life is Beautiful”, música dedicada a elas; se tornaram o 1° patrono da MOAS, uma organização especializada em resgatar refugiados em alto mar; e a visita ao Instituto do Coração em São Paulo, enquanto passavam por aqui com o fim da turnê.

Entre tudo isso, eles conseguiram retomar antigas e incríveis parcerias, como a de Brian Eno. Brian, que é um dos produtores mais completos dos últimos 40 anos e que também já produziu o Viva La Vida or Death and All His Friends, desta vez ajudou com o Kaleidoscope, e não para por aí. Brian, que é dono da empresa Opal Limited – especializada também em aplicativos —, colaborou com o app de Hypnotised, que tem o propósito de interagir com a música seja nos shows ou fora deles. Nessa onda tecnológica, em agosto o Coldplay chegou com a parceria da NextVR, que já era firmada desde 2014 com o clipe de “A Sky Full Of Stars”, para um dos feitos mais sensacionais do ano da banda: um show em Chicago que seria transmitido em realidade virtual para mais de 50 países. Brasil não ficou de fora, obviamente, e na época a moça que vos escreve aqui mais a equipe do CPBR foram convidados a desfrutar da experiência maravilhosa. Houve Live Blog do último show da turnê e também o reconhecimento da plataforma Famous Old Painters pela própria banda, criada por Andy McCray, que consiste em mostrar curiosidades sobre as músicas de cada álbum. Além dessas, o Mat Whitecross, que praticamente já bate cartão na presença da banda, seguiu firme na ideia do documentário e se juntou a eles para filmar os últimos shows na América do Sul.

E por falar em shows, se tem uma coisa que não dá pra reclamar do Coldplay nesse ano (ou em qualquer outro), foram os shows. Desde canções criadas para o público argentino, mexicano, brasileiro, etc, até as próprias histórias por trás da turnê, como o caso de racismo do Gabriel que teve uma reviravolta positiva depois de ter sido expulso do show em São Paulo, pedidos de casamento, e até Will Champion mais desinibido em frente ao público e cantando. Creio que essa vibe toda é transmitida a partir do momento em que se é anunciada a ida da banda para algum país, é também a forma como cada integrante trata com respeito e carinho não só os fãs, mas a população do local, como eles reconhecem desde a equipe que pega no pesado até os artistas que abrem os shows — ressaltando que a oportunidade de ouro que a Dua Lipa teve pra mostrar o belo talento dela veio da parceria com o Coldplay, seja abrindo os shows ou formando a canção “Homesick” — ou viver confirmando duas datas seguidas de show porque um dia só esgota em horas.

Seja qual for o motivo, 2017 terminou com uma esplêndida e marcante presença da banda no Brasil e na Argentina. Só nos resta aguentar o hiato que vem por aí e se segurar em qualquer coisinha que eles podem nos soltar enquanto um álbum novo não vem.

E termino aqui com o conselho mais sábio de Chris Martin: “Eat more chocolate and listen to Coldplay!”

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